Agostinho da Silva

Um Incentivo à Cultura

Agostinho da Silva desfrutou do convívio e trabalhou com as mais gradas figuras do leque intelectual e político (quer no Brasil, quer em Portugal) com a mesma delicadeza e finura com que tratava os mais humildes que à sua porta batiam. Nunca um gesto de enfado ou de impaciência, bem pelo contrário, uma permanente disponibilidade para ouvir ou melhor, saber ouvir, aconselhar, sugerir e incentivar.

Numa daquelas saborosas conversas de fim de tarde, na Travessa do Abarracamento de Peniche (Paisagem, professor Agostinho da Silva e Tejo ao fundo) em que sonhávamos com uma maior aproximação entre o Brasil real e o Portugal real, surgiu subitamente o desafio:
- E se a minha amiga metesse mãos à obra e criasse uma coisa género Casa da Cultura aqui em Lisboa? Um espaço onde os nossos irmãos brasileiros, africanos, orientais e até europeus pudessem ter acesso ao convívio, à leitura, ao debate, ao lazer, todos unidos em torno de falas coloquiais, partilhando os saberes, as vivências, e as esperanças?
Surpresa e seduzida (quem conseguia resistir “ao último sedutor” como tão bem lhe chamou Fernando Dacosta) fiquei a olhar o Tejo e a pensar no lirismo e no pragmatismo desta proposta. E a coincidência era que ela correspondia exactamente ao projecto que um grupo de amigos e eu vínhamos a acalentar de há uns anos a esta parte. Embora não fosse viável na época a concretização desta ideia, o “bichinho”ficou cá dentro…

Ao comemorarmos o 89º aniversário do nosso querido Mestre e amigo – 13 de Fevereiro de 1995 – entendemos que a nossa melhor homenagem consistia em levar avante o desafio e assim nasceu o Cais de Culturas.

Dulce Matos

 

Nada fiz a contragosto
Tudo foi um prazer meu
E nada pedi à vida
Do que a vida tanto deu


Tudo o que faço no mundo
Sem eu o fazer é feito
Baila  vida em liberdade
Sobre o nada em que me deito

Agostinho da Silva, in Quadras Inéditas

 

“Uma vida bem vivida que não se furte a nenhuma experiência, é aquela vida que no fim se esquece de si própria, se olha ao espelho e não vê o próprio rosto, em lugar do próprio rosto que pouco vale, ela vê a vontade de todos os homens de todo o mundo para serem uma humanidade fraterna e uma humanidade viva”

 

Agostinho da Silva, Encontros in Phala

 

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